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Channel: Do Tempo da Outra Senhora
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Sol que se apagou

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Alentejo (1930).
Simão César Dórdio Gomes (1890-1976).
Óleo sobre cartão (26,9 x  35,5 cm).
Museu de José Malhoa, Caldas da Rainha.

A vida é uma longa caminhada, feita de afectos e emoções, alegrias e tristezas, ilusões e desilusões, medos e actos de coragem, vitórias e derrotas, avanços e recuos. Enfim, de tudo um pouco.
Atingir os objectivos pessoais previamente fixados, é fruto de muito esforço e disciplina, mas também de alguma imaginação. Condições favoráveis também ajudam. Porém, mal de nós se estivermos à espera que o maná nos caia do céu.
Podemos levar a vida a sério ou não. O que é certo é que a vida nos acaba sempre por pregar partidas. Quando damos por nós, somos um sol que se apagou.

A corrida

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 A corrida (2002).
Jennifer Walton.

 Óleo sobre tela (76 x 153 cm).

Colecção particular.

 

 
Já fui corredor de fundo. Hoje corro com a mente, porque as pernas não me deixam correr. Perdi a capacidade de chorar e de sorrir. Todavia, procuro seguir em frente. Atéquando? Não sei...

António Telmo homenageado em Estremoz

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 O  retrato de António Telmo no Café Águias de Ouro em Estremoz, local onde foi animador incansável
de uma Tertúlia.


Fotografias de Francisca de Matos

Por iniciativa do Círculo António Telmo e da Sociedade Recreativa Popular Estremocense tiveram início hoje em Estremoz, as Comemorações do IV Centenário do Falecimento de António Telmo (1927-2010), filósofo, escritor e professor, figura cimeira da Cultura e da Filosofia Portuguesa. Assim, pelas 9 horas, na Sociedade Recreativa Popular Estremocense, teve inicio o II Torneio de Bilhar “António Telmo“, que se prolongou até às 17 horas.
Pelas 11 horas, foi descerrado o retrato de António Telmo no Café Águias de Ouro, local onde foi animador incansável de uma Tertúlia. Presentes para além de tertulianos e de membros do Círculo António Telmo, amigos e simples populares. De registar a presença de António Serrano, Chefe de Gabinete do Presidente da Câmara, em representação deste e da Vereadora do Pelouro da Cultura. Presentes também Nuno Rato, Presidente da Assembleia Municipal e José Maria Ginja, Presidente da Junta de Freguesia de Estremoz. Usaram da palavra, Inácio Balesteros, Presidente do Circulo António Telmo e o Professor Doutor Manuel Ferreira Patrício, amigo íntimo do homenageado. De permeio, o poeta Mateus Maçaneiro declamou um soneto de sua autoria, dedicado a António Telmo.  
Pelas 12 horas, teve lugar o descerrar do retrato de António Telmo na Sociedade Recreativa Popular Estremocense, onde como associado foi praticante emérito de bilhar, esse jogo de perícia e saber que ele tanto amava. Usaram da palavra Ilídio Saramago, Presidente da Sociedade Recreativa Popular Estremocense e o Professor Hernâni Matos em nome pessoal. Seguiu-se o almoço em que participaram cerca de quatro dezenas de pessoas.
Amanhã pelas 9 horas no mesmo local, continuará o Torneio de Bilhar, que se prolongará até às 17 horas e no qual estará em disputa “O jogador de bilhar”, um novo boneco de Estremoz criado pelas Imãs Flores e por Ricardo Fonseca.


 Mateus Maçaneiro declamando o soneto que dedicou a António Telmo.
 Um aspecto dos presentes no Café Águias de Ouro.
Outro aspecto dos presentes no Café Águias de Ouro. 
 Novo aspecto dos presentes no Café Águias de Ouro. 
 Mais um aspecto dos presentes no Café Águias de Ouro. 
Um novo aspecto dos presentes no Café Águias de Ouro.  
 O Professor Hernâni Matos no uso da palavra. na Sociedade Recreativa Popular Estremocense.
Em primeiro plano, a Mesa de Honra.
Os livros publicados por António Telmo estiveram em exposição no local onde foi descerrado
o seu retrato.
 Ilídio Saramago, Presidente da Sociedade Recreativa Popular Estremocense e Maria Antónia Vitorino,
viúva do homenageado no acto de descerramento do seu retrato.
 Um aspecto dos participantes no almoço.
 Outro aspecto dos participantes no almoço.
O troféu em disputa no II Torneio de Bilhar "António Telmo".

António Telmo e o bilhar

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ANTÓNIO TELMO E O BILHAR.
Peça da barrística popular estremocense criada pelas Irmãs Flores e por Ricardo Fonseca.


Palavras de Hernâni Matos proferidas na Homenagem a António Telmo
promovida pela Sociedade Recreativa Popular Estremocense no dia 23
de Agosto de 2014.

À laia de justificação
Creio seguramente que, neste preciso instante e nesta sala, alguns dos presentes estarão a perguntar a si próprios:
- O que é que este sujeito está aqui a fazer? Ele não era amigo, nem tão pouco discípulo de António Telmo, não frequentava a Tertúlia do Café Águias de Ouro, não é jogador de bilhar, nem pertence ao Círculo António Telmo. Porque é que o fulano está aqui?
Passo a responder:
- Estou aqui pela razão exacta de não ser nenhuma dessas coisas. É que António Telmo não se esgotava no conjunto daquelas vertentes.
Ao longo da sua permanência em Estremoz, António Telmo teve escassa interacção comigo, mas foi quanto bastasse para eu perceber a consideração que nutria por mim, à qual naturalmente sempre correspondi, não por mera questão de cortesia, mas por reconhecer a sua grande envergadura intelectual e admirar o seu gosto pela autonomia e pela liberdade de pensamento. Foi essa força indomável e insubstituível do seu pensamento que me levou a vir hoje aqui, testemunhar o apreço que tenho pela sua vida e pela sua obra e dedicar-lhe com humildade as palavras que se seguem.
Falemos de bilhar
Na minha família existe há muito um intenso fascínio pelo jogo de bilhar.
Meu pai, alfaiate particular de António Telmo, tinha, tal como ele, o jogo na massa do sangue. Era exímio praticante de bilhar, exercício que praticava na Sociedade de Artistas Estremocense e no Café Alentejano.
Nos anos sessenta do século passado, aquele Café encerrava as portas às duas da madrugada, hora até à qual se podia jogar bilhar, xadrez e mahjong. Entre os seus parceiros destes jogos, estava o tenente Graça Gonçalves, combatente da 1ª Grande Guerra Mundial e dentista de profissão, em cuja morada actualmente resido. O seu consultório de tortura é hoje a minha pacífica sala de estar.
A minha memória do jogo de bilhar remonta aos quatro anos de idade. Nessa época, o meu tio paterno, recruta em Elvas, sempre que podia vinha passar o fim-de-semana connosco e levava-me a passear com ele. Escusado será dizer que o fascínio pelo bilhar, que ele também partilhava com o meu pai, o conduzia inevitavelmente ao Café Alentejano, onde existia então uma sala de jogo com duas mesas de bilhar. E foi nessas circunstâncias que, certo dia de Carnaval, trajado de lavrador, com farpela confeccionada pelo meu pai, me vejo ali a assistir a um jogo de bilhar. Os jogadores pertenciam à fina-flor das tacadas, pelo que o meu tio seguia entusiasmado a partida. Dali não resultaria mal nenhum, não se tivesse dado o caso de eu ter sido acometido por forte dor de barriga, que me levou a implorar-lhe:
- Tio leve-me à retrete, que eu quero fazer cocó!
A resposta foi peremptória:
- Está sossegado rapaz, deixa-me lá acabar de ver esta jogada!
É claro que eu, gaiato de palmo e meio, obedeci ao meu tio. Os meus intestinos é que não, pelo que acabei por me borrar pelas pernas abaixo. Contrariado, o meu tio acabou por não ver o fim da jogada e lá teve de me levar para casa, a fim de a minha mãe me lavar. Nessa altura, eu já não tinha necessidade de evacuar, tinha era de ser evacuado urgentemente da sala de jogos, onde o chão e a atmosfera ficaram assinalados pelos meus intensos e infantis fedores fecais.
Eu morava então numa casa na rua da Misericórdia, que depois foi derrubada para ampliar o edifício dos Correios. O caminho ainda foi longo, pois tivemos que contornar a vetusta Igreja de Santo André, que ainda não tinha sido derrubada às ordens do Ditador, para ali erguer o mostrengo que é o actual Palácio da Justiça. Ao longo desse trajecto que parecia não ter fim, eu ia deixando marcas da minha passagem. Chegado a casa, o meu tio ouviu das boas e a minha mãe lá teve que me dar banho numa banheira da época, que era um avantajado alguidar de zinco, estrategicamente disposto na sala de arrumações. É pois compreensível que aquele jogo de bilhar tenha perdurado como forte registo da minha memória.
Mais tarde e já na juventude, o meu pai procurou iniciar-me nos jogos, entre eles o jogo de bilhar. Todavia, contrariando o adágio, filho de peixe não soube nadar, pelo que nunca passei dum péssimo jogador.
Na Universidade formei-me em Física, que grosso modo é uma espécie de râguebi da Ciência, onde só cabem os duros. Foi então que interiorizei a Física e a Matemática do bilhar, das quais passei testemunho ao Manuel, filho do António Telmo, de quem fui professor na Escola Secundária de Estremoz. Comigo, ele trabalhou as noções de momento linear e de momento angular de um corpo, a teoria das colisões, as leis da conservação e de variação do momento angular de um corpo, bem como o teorema da energia cinética. A aprendizagem do Manuel foi fácil, já que o terreno era fértil. Como opção de vida, o Manuel tornou-se seareiro numa área que também foi minha e, curiosamente, no bilhar seguiu também as minhas pisadas, que não as do pai.     
Quanto a mim e como já disse, apesar de dominar a Física e a Matemática do bilhar, sempre fui péssimo praticante do “jogo de perícia e de saber que António Telmo tanto amava e de que foi praticante emérito”, como nos diz Armando Alves, seu amigo e companheiro de jogo.  
Pessoalmente, julgo que me faltam a perícia e o saber-fazer no jogo abordado por Camilo Castelo Branco em “Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado”, por Eça de Queirós em “Os Maias” e por Alberto Pimentel em “O Lobo da Madragoa”.
A propósito do jogo do bilhar, existe um texto colhido em “Viagem a Granada”, onde António Telmo se entrevista a si próprio, dizendo a certa passo: “…o bom jogador tem de concertar entre si, antes de dar a pancada, mentalmente já se vê, cinco factores: a força com que a bola é impelida, o efeito que se dá na bola, a quantidade de volume a apanhar da bola que primeiro visamos tendo em conta as posições angulares, o ponto da tabela onde a nossa bola vai bater, e tudo isto numa apreensão sintética que implica uma concentração perfeita para que a jogada resulte”.
Mas o que é isto? Vindo lá de cima, onde António Telmo parece estar a jogar bilhar com o meu pai, estou a ouvir uma conversa onde o primeiro diz: 
- Amigo Matos, o seu rapaz é um artista das palavras, tal como você o foi dos fatos. Porém, a conversa já vai longa...
E agora António Telmo está a dirigir-se directamente a mim, proclamando:
- Oh Matos filho, são quase horas de almoço e todos estão fartos de o ouvir falar. Despache lá a conversa e depois vá “dar uma volta ao bilhar grande!”
É claro que não posso ficar indiferente a esta Mensagem, pelo que peço à Maria Antónia, amor da sua vida, que descerre o retrato de João Albardeiro que a Direcção da Sociedade Recreativa Popular Estremocense, em boa hora deliberou colocar aqui para assinalar e perpetuar a passagem de António Telmo por esta casa, da qual foi um animador incansável do jogo de bilhar e um notável jogador, cujas tacadas deleitaram quem o viu jogar. Casa onde ele soube também interpretar o simbolismo oculto do rico património azulejar das salas, que o levou a concluir estar em presença duma loja de São João.
Para o António Telmo, que nos está a ver e a ouvir lá em cima, peço uma calorosa salva de palmas.


Estremoz - Defesa do Património - 1

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Antiga Casa da Câmara / Casa do Alcaide-Mor em Estremoz, situada na Rua do Arco de
Santarém, junto da porta medieval denominada Arco ou Porta de Santarém - Fotografia
de Rogério de Carvalho (1915-1988) de finais dos anos 30 do séc. XX. Arquitectura
político-administrativa e residencial, manuelina, mudéjar setecentista. Edifício
modesto,  apenas marcado pela composição da frontaria, nomeadamente as janelas
manuelino - mudéjares. Elementos setecentistas como a janela ao lado do pórtico e
a varanda com balaustrada joanina. O interior da casa encontra-se em ruínas, não
restando qualquer cobertura ou estrutura e na actualidade a fachada ameaça abater.
MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 9.842, DG, 1.ª série, n.º 137 de 20 de Junho
1924 / ZEP, Portaria, DG, 2.ª série, n.º 52, de 2 de Março de 1972.  

Os atentados que ao longo dos anos têm sido perpetrados impunemente contra o património cultural em Estremoz, impelem-me a passar em revista a acção das estruturas associativas de defesa do património cultural.
1 - Grupo dos Amigos de Estremoz — Associação de Defesa do Património Natural e Cultural
Hoje inactivo e com picos de actividade centrados nos anos 60 do século passado. Ligado à política reformadora do Presidente da CME, Dr. Luís Pascoal Rosado (1922-1971). Os seus objectivos incluíam: - Promover a defesa e conservação do meio ambiente nos aspectos paisagísticos, monumentais, artísticos e outros que mais o caracterizam e individualizam; - Promover e restaurar costumes, tradições, festas, feiras e romarias com características locais e regionais; - Promover a valorização urbanística da cidade e seu termo no respeito pelos valores herdados ao longo de séculos;
2 – Núcleo de Dinamização Cultural de Estremoz 
Liderado por Joaquim Vermelho (1927-2002), trabalhou com a Missão UNESCO e o seu conselheiro Per-Uno Ägren, de 1977 a 1980. Ao Núcleo pertenceram também, entre outros, Francisco Rodrigues, Maria Luzia Margalho, Vitor Trindade e Manuel Ferreira Patrício. O Núcleo desenvolveu acções em Santa Vitória do Ameixial, de onde Francisco Rodrigues era natural. Esse trabalho abordou temas como: - O Trajo de Trabalho e de Festas; - Cantadores de Almas; - Carnaval à moda Antiga; - Festas do Padrão; - Encontros de Cantadores Populares; para além disso, o Núcleo de Dinamização Cultural editou obras como: - As Décimas do Padrão; - Cantadores das Almas; - Cancioneiro I; - Lendas e outras Histórias; - A Memória das ruínas da vila romana de Santa Vitória do Ameixial; - O Falar das Mãos – Joaquim Carriço Rolo um artesão da madeira e do chifre; - O Falar das Mãos – Camões e os poetas populares; - Os campos do Ameixial; - Pequeno Guia da Barrística Estremocense nas colecções do Museu Municipal de Estremoz. Foi um trabalho notável para a época e em múltiplos aspectos um trabalho pioneiro.

(Continua)


Efemérides de Setembro (Nova versão)

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4 de Setembro
A 4 de Setembro de 1479, é assinado o Tratado de Alcáçovas, entre D. João II
(1455-1495) e os Reis Católicos, que põe fim à Guerra de Sucessão de Castela.
TRATADO DE ALCÁÇOVAS - Registo de arquivo que os reis de Castela fizeram ao
seu assistente em Sevilha sobre o tratado acordado em Alcáçovas (14 de Março
de 1480 -1 ª página.).
3 de Setembro
A 3 de Setembro de 1513, uma expedição comandada pelo Duque de Bragança D. Jaime
(1479-1532),conquista a praça de Azamor, após poucos dias de cerco. Azamor era uma
das mais ricas cidades que os mouros possuíam na Mauritânia. Esta expedição composta
por 400 barcos e cerca de 25.000 homens foi ordenada pelo rei D. Manuel I (1469-1521) e
saiu do porto de Lisboa a 17 de Agosto de 1513. Com o desembarque do grosso das tropas
na baia de Mazagão, em 28 de Agosto, os portugueses atacaram por terra e pelo rio a 1 de
Setembro. Os defensores de Azamor, abalados com o poderio do exército português,
abandonaram a cidade e a 3 de Setembro, o duque de Bragança entrava na cidade e 
D. Manuel I acrescentava mais uma praça marroquina ao império colonial português.
2 de Setembro
A 2 de Setembro de 1876 morre José Fontana (1840-1876), publicista, intelectual,
brilhante orador, com um poder de comunicação e de persuasão extraordinário.
Maçon, foi um dos organizadores das Conferências do Casino e um dos fundadores
do Partido Socialista Português.
1 de Setembro

Morre Costa Cabral (1803-1889), marquês de Tomar, antigo ministro de D. Maria II
(1819-1853) e que foi Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano. ANTÓNIO BERNARDO
COSTA CABRAL (1842) – Gravura (35,5x29 cm) de Fonseca Portuense.  Litografia de
Manuel Luís da Costa, impressor. Biblioteca Nacional de Portugal.

Colectânea Literária Cinegética

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Capa de Francisco Charneca.

Texto lido pelo autor na apresentação do livro,
ocorrida na Casa de Estremoz, pelas 15 h 30 min
do dia 6 de Setembro de 2014.

Fotografias de Francisca de Matos.

ADVERTÊNCIA
Não sei se vai ocorrer aqui hoje ou não, uma tragédia cinegética ou até mesmo um eventual ecocídio. É que só o Diabo se podia lembrar de me convidar para falar desta admirável colectânea literária cinegética. É que eu nem sequer sou “marteleiro”, mas sim um não caçador confesso.

Se não foi o Diabo, então quem foi? Hum, isto cheira-me a tramóia de Mestre Velho Murtigão, afastado dos seus afazeres rituais nos santuários bacorais de Santo Alêxo da Restauração e com o espírito liberto para fazer das suas. Eu até era capaz de jurar pela alma dos quatro perdigões reais, que a urdidura e a trama desta tragédia cinegética tem a marca inconfundível de Mestre Velho Murtigão. Todavia ele não será o único culpado, já que terá contado com a colaboração de mais dois cúmplices. Um deles foi o Francisco Charneca que terá sido o seu lugar-tenente em toda esta marosca. O outro foi o José Amaro, que foi o mestre-de-cerimónias que com falinhas mansas acabou por ser o responsável final por eu estar aqui hoje.

Foi uma armadilha que me montaram e eu caí na esparrela de ter de falar destas caçadas literárias. Convenci-me desde logo que o convite formulado fora fruto das circunstâncias de não terem arranjado um especialista de serviço. Lá diz o rifão “Quem não tem cão, caça com gato”. E nisto tudo havia gato e o gato era eu, pelo que a minha primeira reacção foi declinar o convite do José Amaro. Aconteceu, porém que li uma dedicatória na contracapa do livro, a qual reza assim: “Aos nossos companheiros, cúmplices e amigos inseparáveis da Caça – os cães”. Foi então que mudei radicalmente de opinião e aceitei o convite do José Amaro. Sabem porquê? Porque aquela dedicatória também me é dirigida, já que “Alentejanos, argarvios e cães de caça, é tudo a mesma raça”. Aceitei pois o desafio, correndo o risco de em vez de falar de caça, fazer uma conversa de caca, o que constituiria uma tragédia verbal superior à ablação da cedilha.

De resto fui convidado, não por ser propriamente um “picareta falante”, mas por ser há muito conhecido como “picareta escrevente”.

Vamos lá ver no que isto vai dar. Que Santo Huberto lá no céu e Diana no Olimpo, tenham piedade de nós.

O PRIMEIRO CAÇADOR

De acordo com o Génesis, o primeiro livro da Bíblia, Adão e Eva foram expulsos do Jardim do Éden, pelo que por necessidade de sobreviver, Adão terá sido o primeiro caçador. Diz-nos a antropologia que de facto, foi a necessidade de sobreviver que levou o homem primitivo a caçar, isto é, a perseguir outras espécies animais, com a finalidade de os abater e consumir na alimentação.

A caça como actividade humana aparece representada nas pinturas e gravuras de grutas como Lascaux, Chauvet ou Altamira. Provavelmente, o homem terá começado por caçar sem armas, às quais terá começado a recorrer em certo estágio da sua evolução. E naturalmente com a evolução do homem, vão evoluindo igualmente as armas usadas na caça. Estas classificam-se em:

-    Armas de arremesso de mão: dardo, azagaia e arpão.

-    Armas de arremesso de engenho: funda, fisga, arco, besta, zarabatana e bumerangue.

-    Armas de choque: cajado, moca, machado, punhal, faca, espada, sabre e lança.

-    Armas de choque e arremesso de mão: machado, punhal e lança.

-   Armas de fogo: mosquete de pederneira, espingarda, pistola, revólver, etc.

Na caça, o homem pode também utilizar armadilhas diversas, tais como gaiolas, laços e redes. Pode igualmente ser auxiliado pelo cavalo em que se faz transportar ou por animais como o cão e o furão, assim como por aves de rapina como o falcão e o açor, usados na caça de altanaria.

O DESESPERO DE ADÃO
Adão deve ter sido o caçador mais feliz de todos os tempos, já que não lhe foi exigida carta de caçador, nem bilhete de identidade ou passaporte, assim como licença de caça, o que pode obrigar a ter cinco tipos de licenças: licença nacional, licença regional, licença de caça para não residentes em território nacional, licença para caça maior e licença para caça a aves aquáticas. Se fosse hoje, para além disso, Adão teria de trazer consigo, recibo comprovativo da detenção de seguro de caça, licença de uso e porte de arma, livrete de manifesto de armas, cartão nacional de identificação dos cães e licença de cão de caça. Estou certo que Adão se passaria dos carretos e diria:

- Arre, porra, que é demais!

A COMUNHÃO COM A NATUREZA

Caçar é uma actividade nobre, regulamentada por lei e existe um “Código de Comportamento do Caçador” elaborado sob os auspícios do Conselho da Europa e adoptado como recomendação n.º 8-17 pelo Comité de Ministros dos Estados Membros em 23 de Setembro de 1985. Divulgado entre nós pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e Associações de Caçadores com o objectivo de promover uma ética de caça fundamentada nas realidades de hoje. Reconhece-se que a fauna selvagem deve ser preservada para as gerações presentes e futuras pelo seu valor ecológico, económico, estético, cultural e educativo. Reconhece-se ainda que a caça pode ser considerada como um elemento importante de gestão da fauna selvagem, com a condição de respeitar as necessidades ecológicas das espécies e dos seus equilíbrios biológicos. Todavia, certos tipos de comportamento podem ter repercussões nefastas no futuro de algumas espécies. Daí a importância de que se reveste, os caçadores seguirem o “Código de Comportamento”, já que é imperioso respeitar a fauna silvestre e observar normas éticas e de segurança inerentes ao acto venatório assim como contribuir para uma gestão racional dos recursos cinegéticos.

A caça põe o homem em contacto íntimo e em comunhão com a Natureza. Fazem-se grandes caminhadas e como diria o poeta sevilhano António Machado (1875-1939):

……………………………..

caminhante, não há caminho,

faz-se caminho ao andar.

………………………

E nas suas andanças por cerros e vales, o caçador acompanhado do seu fiel amigo, o cão, aprende a conhecer a natureza, a interpretá-la e a respeitá-la.

ESTÓRIAS DE CAÇADORES

Para além do prazer proporcionado pela caça em si, há outras alegrias no final das caçadas: a exibição dos troféus de caça, o convívio à boa mesa e as estórias que se contam. Lá diz o rifão que:

- Quem conta um conto, aumenta um ponto.

assim como:

- Mau caçador, bom mentidor.

E também:

- Mentiras de caçadores são as maiores.

Um caçador é naturalmente um bom contador de estórias, umas verdadeiras outras romanceadas ou até mesmo pura ficção, mas todas elas, estórias. As estórias contam-se à mesa depois das caçadas, mas contam-se também no Facebook, rede social onde foi criado um grupo chamado “Arte Cinegética”, destinado à divulgação de obras de Arte Cinegética, tanto no âmbito das Artes Plásticas como da Literatura, Fotografia, Joalharia, Design e Taxidermia. Tal grupo de que também sou membro, tem 781 membros e tem como administradores Francisco Charneca, José Amaro José Joaquim Marques Chaparro e Pedro Miguel Silveira. Foi o grupo “Arte Cinegética” que esteve na origem do Clube Literário Cinegético, pelo qual estou aqui a dar a cara ou se preferirem o focinho, já que estamos a falar de caça.

A primeira publicação do Clube é esta “Colectânea Literária Cinegética” onde caçadores, inevitavelmente contadores de histórias, trocaram a espingarda pela caneta e resolveram passar ao papel, tanto em prosa como em poesia, algumas das estórias que lhe vão na alma.

FALEMOS ENTÃO DO LIVRO

Trata-se de um livro com capa cartonada com as dimensões de 17x24x2 cm, com o peso de 585 gramas e um total de 342 páginas, dividido em 48 partes e profusamente ilustrado. Reúne prosa e poesia de 42 autores-caçadores. a saber: Adriano Palhau, Agostinho Beça, Alexandre Fernandes, Ângelo Sequeira, António Afonso Inácio, António Luiz Pacheco, António Maria Pignatelli, António Pedro Rodrigues, Edgar Cordeiro, Fernando Coutinho, Fernando Manuel Santos Mota, Fernando Mascarenhas Loureiro, Francisco Charneca, Gilberto Fernandes, Gonçalo Roquete, Helena Cotrim, Joaquim Santos, João António Freixo Boavida, João Carlos Sequeira, José Amaro, José António Neves, José Maria da Cunha, José Martins, José Joaquim Marques Chaparro, Júlio Sousa, Luís Barata, Luís Guimarães, Luís Miguel Pereira, Luís Paiva, Manuel Prata de Almeida, Manuel Vassalo, Mestre Velho Murtigão, Miguel Pereira, Paulo Farinha Pereira, Paulo Oliveira, Paulo Santos, Pedro Delgado, Pedro Miguel Silveira, Rodrigo Abreu, Sérgio Paulo Silva. Nelson F. Tomaz e Nuno Sehastião. Os textos têm um elo comum a paixão pela caça que lhes está na massa do sangue.

As ilustrações num total de 191 pertencem a 11 autores. São eles: Alexandre Fernandes, António Charneca, Fernando Farinha Pereira, Francisca Paiva, Francisco Charneca, Francisco Fachadas, Francisco Marques, Inês Valadas Pereira, Luís Barata, Manuel Trovisco e Rita de Mascarenhas Loureiro.

A colectânea foi coordenada por José António Neves e por Francisco Charneca, respectivamente a nível de textos e de ilustrações. A paginação e a capa são também de Francisco Charneca.

O SIMBOLISMO DO LIVRO
Este livro está repleto de simbolismo. Tem como cor dominante, a cor da terra de barro, o mesmo barro com que Deus terá modelado o primeiro homem, o qual por desobediência da sua cara-metade, acabou por ter de expulsar do Paraíso. Por isso, este livro é também uma homenagem a Adão, o primeiro caçador da História da Humanidade.

Para além disso, neste livro os tons de ocre castanho, um dos pigmentos minerais usados na decoração de grutas como as de Lascaux, Altamira e Chevreux, são também uma homenagem, aos artistas rupestres precursores da arte cinegética, que esteve na génese do grupo homónimo do Facebook.

DUAS PALAVRAS

Em “Duas palavras...”, que é como que um ante prefácio, os coordenadores da colectânea dão-nos conhecimento que (e passo a citar):

A generalidade dos autores, a maioria, a publicar pela primeira vez, oriundos da geografia portuguesa, assume galhardamente a sua condição de caçadores que escrevem, devendo ser este livro avaliado essencialmente sob esse prisma. Nas suas diversas histórias, narrativas e crónicas, onde a fantasia, o humor e o vernáculo, tão característicos das nossas tertúlias, temperam a austeridade dos lances, encontraremos a expressão de diferentes idiossincrasias, unidas pelo gosto comum da multidisciplinar prática venatória.

E mais adiante dizem:

Nestas páginas encontraremos ainda múltiplas vivências, tanto no território pátrio como fora dele, onde a crua realidade é omnipresente. Isso permite-nos a percepção clara do arrebatamento que incita ao acto cinegético, da dureza imposta pelo ambiente natural e das palpitações do esforço tenaz, materialização sublime do corolário da vontade e do espírito de sacrifício.

E terminam dizendo:

As ilustrações, embora sejam uma manifestação artística com valor próprio - aliás, de excelente qualidade - combinam-se com a escrita numa simbiose admirável. Alguns dos seus autores, apesar de nâo-caçadores, revelaram, em traços precisos e indeléveis, um esclarecido entendimento da paixão que nos movimenta e dos horizontes que perseguimos.

IN MEMORIAM

Em “In Memoriam…”, os coordenadores da colectânea dão conhecimento de que “Nas montarias peninsulares é honrosa tradição recordar os amigos e companheiros desaparecidos.” Por isso entenderam nesta colectânea “…proceder de igual modo através da evocação de uma figura representativa e consensual devido à singularidade dos seus feitos e à extrema dignidade do comportamento pessoal.”. Trata-se de Mestre José Pardal que segundo nos revelam “Na sua multifacetada experiência personifica o arquétipo do caçador integral e consciente, daí a eleição deste vulto incontornável da nossa cinegética para preitear a memória, dos que, como Ele, nos antecederam ou acompanharam.”

PREFÁCIO

O notável prefácio de Gonçalo Roquette levou-me à conclusão de estar em presença de alguém que é com certeza um grande caçador e dispara igualmente bem com a arma e com a caneta. Ideia que é reforçada pela sugestiva ilustração que acompanha o prefácio. Dele respiguei a seguinte afirmação: “Não há dúvida que as terras da felicidade são os nossos locais de caça. Onde regressamos, religiosamente, para celebrar a vida ali vivida. Assim são os livros como este, não só mas também, uma maneira de caçar.”, bem como esta outra:”Com esse apontamento quero assinalar que a caça é indiscutivelmente um factor de união entre os homens, independentemente da sua opinião política, da religião que professam, da sua raça, do sexo, dos seus bens de fortuna e do seu berço, “Os homens compreendem-se uns aos outros na medida em que os animam as mesmas paixões”. E aqui Roquete cita Stendhal. Parabéns pelo texto. Estou certo que é considerado um privilégio, tê-lo como amigo e ser seu companheiro de caça.

DAS ESTÓRIAS

Das estórias pouco posso dizer. São histórias de caça, em prosa e em verso, com estilos e domínios de escrita diversos, reflexo da experiência cinegética e do imaginário de cada um. Há que lê-las e partilhar com cada um dos autores o relato da sua vivência e da sua imaginação.

POSFÁCIO

O posfácio de Nuno Sebastião, elaborado depois de calcorrear estas páginas de caça, trouxe-lhe à memória o saudoso tempo do terreno livre dos seus tempos de catraio, quando acompanhava o pai. Era o tempo da vida livre e desburocratizada de campos sem tabuletas, tempos que não voltam. E felicita os confrades que em prosa e poesia, decidiram formar jolda e trocarem a lazarinapela caneta para nos brindarem com uma lição de ética venatória e bom companheirismo.

TRIBUTO

No final do livro e muito bem, os coordenadores da “Colectânea Literária Cinegética” prestam um tributo aos companheiros e companheiras que ao seu lado celebram com a indispensável benevolência, a sua dedicação à festa da caça.

GLOSSÁRIO

No final do livro é possível consultar um valioso glossário com 436 termos e expressões idiomáticas usadas pelos caçadores. Curiosamente, o significado não é o que pode parecer à primeira vista.

A talhe de foice, destaquei os seguintes termos: Amélias que são pessoas pouco desembaraçadas. Badagaio que é a queda desamparada. Bufar que é expirar com força. Choça que é o abrigo utilizado pelo caçador para se esconder da caça na modalidade de espera. Javardo que é o javali adulto. Jolda que é um grupo organizado de caçadores. Marteleiro que é o caçador que erra tudo a que atira. Picada que é um caminho estreito em terra. Pissadas que são raspanetes e Ponta de fora que é a posição do caçador que na caça às perdizes de salto, orienta a caçada.

Este glossário é decerto um bom ponto de partida para a edição autónoma de um dicionário de termos e expressões idiomáticas usadas pelos caçadores. Fico à espera.

ATÉ QUE ENFIM

Permitam-me que termine parafraseando D. Francisco Manuel de Melo, dizendo: “Da infelicidade da composição, erros de escritura e outras imperfeições de estampa, não há que dizer-vos, vós as vedes, vós as castigais”. E acrescentarei:

- Assim seja, para mal dos meus pecados.

Todavia peço-vos, oh cavaleiros do código antigo, cumpridores de preceitos, romeiros dos santuários de caça, fiéis devotos dos templos da sua degustação, tende piedade de mim!


Hernâni Matos


José Amaro do Clube Literário Cinegético no uso da palavra.
 Francisco Charneca do Clube Literário Cinegético no uso da palavra. 
À esquerda, Hernâni Matos fazendo a apresentação da Colectânea a qual acompanhou com uma
projecção em PowerPoint. 
Um aspecto da assistência. 
Hernâni Matos dissertando sobre o Convento de Nossa Senhora da Conceição dos Congregados
do Oratório de São Filipe Nery, actual edifício dos Paços do Concelho de Estremoz.
Visita guiada aos painéis de azulejo azul e branco ao estilo barroco-rococó de D. João V,
que ornamentam a escadaria do Convento e onde figuram interessantes cenas cinegéticas,
a cavalo,  a pé, de quadrilha, caça grossa, ao javardo, à corça, ao porco montês, à raposa,
ao lobo e falcoaria.

Estórias de um não caçador confesso

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Rola.

Aos meus amigos do
Clube Literário Cinegético

O primeiro tiro
Vou procurar explicar tintim por tintim, qual a razão porque não sou caçador. Em primeiro lugar porque não fui bem sucedido no primeiro disparo, ocorrido aí pelos quinze anos de idade, já que por mau aconchego da coronha no ombro, assim que disparei, apanhei com ela nas ventas e fiz marcha atrás devido ao coice da espingarda. Foi um baptismo de fogo que me marcou para o resto da vida. Hoje, a minha consciência crítica interroga-se, perguntando:

- Quem te mandou a ti sapateiro, tocar rabecão?

Só no sétimo ano do Liceu, aí pelos dezoito anos, vim a perceber como funcionam a Física e a Matemática relativas ao disparo de uma arma de fogo e em particular, o facto de cada disparo ter associado a ele um recuo da arma, o qual na gíria dos caçadores é conhecido por “coice”. Trata-se de um fenómeno dinâmico que envolve a lei da igualdade da acção e da reacção e a lei da conservação da quantidade de movimento. Face à primeira daquelas leis, a qualquer acção de um corpo sobre outro corresponde uma reacção oposta e de grandeza igual à acção. Daí que à força propulsora que faz mover o chumbo de caça esteja associada uma força oposta associada à arma e daí o “coice”. Por outro lado face à segunda daquelas leis, num sistema isolado, a quantidade de movimento do sistema permanece constante. A quantidade de movimento de um sistema é o produto da massa pela velocidade. No nosso caso, o sistema é a espingarda com um cartucho lá dentro. Antes do disparo, a quantidade de movimento da espingarda com um cartucho lá dentro, é zero. Terá de ser o mesmo depois do disparo. Mas após este, o sistema separou-se em duas partes. Daí que a quantidade de movimento do chumbo expelido seja simétrica da quantidade de movimento da arma disparada.

O “coice” que me atingiu ocorreu no decurso de férias grandes passadas em casa do meu tio paterno, na aldeia da Cunheira, no concelho de Alter do Chão. O meu tio era um exímio caçador e assistiu ao infortúnio com a espingarda que me emprestara para eu dar o meu primeiro tiro. Como era um grande brincalhão, nesse dia à tarde submeteu-me à chacota dos frequentadores da taberna de que era proprietário e eu senti-me vexado com as chalaças do meu tio. Como eu o costumava acompanhar a ele e aos caçadores nos petiscos de fim de tarde, bebendo “traçadinhos”, nessa tarde inverti as proporções e usei mais vinho que pirolito de berlinde. O resultado está à vista. Tive que ir mais cedo para a cama e no outro dia de manhã acordei com a boca a saber-me a bicicletas partidas.

A espera às rolas

Noutro dia daquelas fatídicas férias o meu sempre bem disposto tio, levou-me com ele à caça às rolas na modalidade de “espera”. Para tal ficámos emboscados numa choça construída pelo meu tio com vegetação existente no local. O nosso quartel-general fora implantado pelo meu tio à distância julgada conveniente de uma nascente de água existente no meio do mato e onde as rolas iam beber no pino do calor. Todavia, apesar do engenho e arte do meu tio, tanto na construção da choça como pela experiência de tiro, as rolas tardavam em descer dos ares e não se iam dessedentar ao nascente. Intrigado com o que se estava a passar e que não era habitual, o meu tio saiu para fora da choça para avaliar melhor a situação. A conclusão a que chegou foi rápida. As rolas não se aproximavam da nascente, porque eu com quinze anos de idade, tinha um metro e setenta e cinco de altura e metade das pernas fora da choça, a denunciar a nossa presença às rolas. Nesse dia à tarde, fui outra vez alvo das graçolas do meu tio e das risadas dos caçadores. É que ele disse na taberna:

- Hoje fui às rolas e pela primeira vez apanhei uma “grade”. Sabem porquê? É que o meu sobrinho tem pernas de girafa e espantou as rolas.

Nessa tarde cheguei à conclusão que fora talhado para ser não caçador, pelo que fiquei com a cabeça fria. Bebi os traçadinhos com mais pirolito que vinho, deitei-me à hora normal e no dia seguinte acordei fresco que nem uma alface.

Daí que por mim, siga o adágio:

- Quem quer caça vai à praça.



8 – Tipos de colecções de bonecos de Estremoz

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Aguadeiro (2014).
Jorge da Conceição.
Colecção particular.

Há quem compre bonecos de Estremoz para oferecer como prendas em ocasiões especiais: Natal, aniversários, casamentos e baptizados. Há de resto quem adquira imagens religiosas para venerar em casa como objectos de culto. Para além disso, há quem procure figurado de Estremoz na qualidade de coleccionador.

Uma colecção é sempre reflexo da motivação, do bom gosto e, é claro, da bolsa do coleccionador.

As colecções de bonecos de Estremoz podem agrupar-se em quatro grandes tipos:

- Colecções generalistas, abarcando figuras de temas diversos, criadas por vários barristas­ desde o séc. XVIII até aos dias de hoje. É o caso da colecção do Museu Municipal de Estremoz;

- Colecções de autor, constituídas por imagens de variados temas, produzidas por um único bonequeiro, como é o caso da colecção do Museu Rural de Estremoz, criada com peças confeccionadas por Mariano da Conceição (1903-1959);

- Colecções de função, incorporadas por artefactos destinados a desempenharem uma determinada função e que foram criados ou não por um único autor. Tal é o caso de colecções de presépios, de paliteiros, de ganchos de meia, de apitos, de brincos, de suportes para velas, de candelabros ou de objectos decorativos como cantarinhas, pucarinhos e terrinas;

- Colecções temáticas, que integram na sua constituição, bonecos produzidos ou não por um único artesão, mas com um elo temático comum. Tal é o caso de colecções de imagens religiosas, de figuras femininas ou de personagens das fainas agro-pastoris do Alentejo do passado. 

Apesar desta sistematização, convém ter em conta que coleccionar é uma paixão e no meu caso, o amor de toda uma vida. Ora o amor não tem barreiras, o que importa é a relação afectiva do coleccionador com os bonecos de Estremoz. O importante é coleccioná-los. Os artífices agradecem, porque a arte popular que lhes brota das mãos mágicas é o seu modo de assegurar o ganha-pão diário.



Estremoz - Defesa do Património - 2

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MÁQUINA DEBULHADORA - Rés-do-chão do Museu da Alfaia Agrícola de Estremoz, quando este
se situava na Rua Serpa Pinto e era visitável, o que aconteceu até Abril de 2004, data a partir
da qual e por recomendação de engenheiros da CME, deixou de receber visitas, por motivos
de segurança. Só em 15 de Julho de 2010 e na sequência de um assalto, começou a transferência
do seu recheio, para o local onde está actualmente alojado: um pavilhão junto aos silos da EPAC.

Outras estruturas associativas de defesa do património cultural em Estremoz foram:
Comissão da Alfaia Agrícola
A chamada “Comissão da Alfaia Agrícola”, liderada por Joaquim Vermelho e dependente da CME, entre 1987 e 1996 geriu o Museu da Alfaia Agrícola, então instalado em edifício devoluto da FNPT, na Rua Serpa Pinto, arrendado pela CME e que veio a acolher mais de 4000 peças da faina agro-pastoril, recolhidas pelo campaniço e encarregado de pessoal da CME, Crispim Vicente Serrano. Peças encontradas em lixeiras, em casões devolutos ou abandonadas ao ar livre, peças doadas por 23 agricultores e também peças depositadas por 24 agricultores à guarda da CME e que foram recuperadas na Horta do Quiton.
Associação Etnográfica e Cultural de Estremoz (ETM0Z)
Fundada em 1996 e hoje inactiva, era liderada pelo Eng.º José Mantero Morais e a ela pertenceram também, entre outros, Henrique Reynolds de Sousa, Pedro Borges, Ruy Zagallo Pacheco, Pedro Nunes da Silva, José Varge e Isabel Taborda Nunes de Oliveira. Os seus objectivos incluíam: - Apoiar e incentivar a recolha, conservação, valorização e investigação do Património Cultural e Ambiental das Comunidades da Região; - Promover um centro de actividades de animação cultural, de extensão educativa e de atracção turística; - Fomentar pólos de investigação científica interdisciplinar, estabelecendo protocolos para o efeito; - Incrementar relações com organizações nacionais, estrangeiras e internacionais, que prossigam fins semelhantes. Graças a um protocolo com a CME, a ETMOZ passou a gerir em Janeiro de 1996, o Museu da Alfaia Agrícola (edifício e recheio), situação que se manteve até 2003, ano em que a gestão transitou novamente para a CME, passando aquela unidade museológica a constituir um pólo museológico do Museu Municipal de Estremoz. A ETMOZ editou em 1997 “Colecção da Alfaia Agrícola (Catálogo Descritivo)”, elaborado pelos seus associados Ruy Zagallo Pacheco e Pedro Nunes da Silva.
(Continua)


Palácio Tocha – Quem lhe acode? - 2

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 PALÁCIO TOCHA (Traseiras) - Telhas levantadas nos telhados, um dos quais totalmente abatido
e paredes exteriores sem reboco algum e com tijolo a descoberto. Fotografia de Luís Mariano,
Julho de 2014.


Um pombal gigante
Em artigo anterior revelámos preocupação pelo estado de degradação do edifício a partir de imagens da fachada e do interior. Posteriormente viemos a recolher imagens das traseiras da construção, as quais nos deixaram chocados. Não é caso para menos. Vimos telhas levantadas nos telhados, um dos quais totalmente abatido e paredes exteriores sem reboco algum e com tijolo a descoberto. Uma chaminé tem o capelo destruído. Várias janelas e portas estão totalmente desprovidas de madeiramento. O edifício em si, está transformado num gigantesco pombal, pois vêem-se pombos a sair do seu interior, sobretudo da zona do telhado abatido. O jardim que se estende até à Travessa de São Pedro, é um autêntico matagal. No local onde outrora existiu uma fonte, está um buraco onde estão amontoadas manilhas de grés.

Tendo sido classificado como de interesse público, de acordo com a Lei 107/2001, de 8 de Setembro, o edifício devia estar identificado através de sinalética própria (Art. 60.º, nº 2f), o que não acontece. Quem o devia ter feito e não fez?

E nós?

Assiste-nos o direito à fruição dos valores e bens que integram o património (Art. 7.º) e temos igualmente o dever de o defender e conservar, impedindo a sua destruição, deterioração ou perda (Art. 11.º, nº 2). Daí que entendamos por bem, fazer uma análise da situação, recorrendo a uma malha mais fina que a anterior. 

Deveres do proprietário

O proprietário tem o dever de conservar, cuidar e proteger devidamente o edifício, de modo a assegurar a sua integridade e a evitar a sua perda, destruição ou deterioração (Art. 21.º, nº 1b). Deve além disso, observar o regime legal instituído sobre acesso e visita pública, à qual pode, todavia, eximir-se mediante a comprovação da respectiva incompatibilidade, no caso concreto, com direitos, liberdades e garantias pessoais ou outros valores constitucionais (Art. 21.º, nº 2a). Deve também executar os trabalhos ou as obras que o serviço competente, após o devido procedimento, considerar necessários para assegurar a salvaguarda do edifício (Art. 21.º, nº 2d). Deve ainda avisar imediatamente o órgão competente da administração central ou regional, os serviços com competência inspectiva, o presidente da câmara municipal ou a autoridade policial logo que saiba de algum perigo que ameace o edifício ou que possa afectar o seu interesse como bem cultural (Art. 32.º).

Será que o proprietário cumpriu estes deveres? É que a negligência é punível (Art. 107.º).

Deveres da Administração

Logo que a Administração Pública tenha conhecimento de que algum bem classificado, ou em vias de classificação, corra risco de destruição, perda, extravio ou deterioração, deverá o órgão competente da administração central, regional ou municipal determinar as medidas provisórias ou as medidas técnicas de salvaguarda indispensáveis e adequadas, podendo, em caso de impossibilidade própria, qualquer destes órgãos solicitar a intervenção de outro (Art. 33.º, nº1). Se as medidas ordenadas importarem para o detentor a obrigação de praticar determinados actos, deverão ser fixados os termos, os prazos e as condições da sua execução, nomeadamente a prestação de apoio financeiro ou técnico (Art. 33.º, nº2). Além das necessárias medidas políticas e administrativas, fica o Governo obrigado a instituir um fundo destinado a comparticipar nos actos referidos no Art. 33.º, nº2 e a acudir a situações de emergência ou de calamidade pública (Art. 33.º, nº3).

Obras de conservação obrigatória

Os municípios e os proprietários de imóveis classificados devem executar todas as obras ou quaisquer outras intervenções que a administração do património cultural competente considere necessárias para assegurar a sua salvaguarda (Art. 46.º, nº 1).

Os órgãos competentes da administração do património cultural têm de ser previamente informados dos planos, programas, obras e projectos, tanto públicos como privados, que possam implicar risco de destruição ou deterioração de bens culturais, ou que de algum modo os possam desvalorizar (Art. 40.º, nº 1).

Deslocação

É de salientar que nenhum imóvel classificado, poderá ser deslocado ou removido, em parte ou na totalidade, do lugar que lhe compete (Art. 48.º) e estamos a pensar no rico património azulejar do edifício classificado.

Tem a palavra o Município
O Palácio Tocha veio a ser classificado como imóvel de interesse público na sequência de proposta da Câmara Municipal de Estremoz, datada de 4 de Junho de 2000. Importa pois saber o que o Município tem a dizer sobre o assunto.

HernâniMatos

Câmara preocupada
Entretanto, conforme noticia na sua edição de 11 de Setembro de 2014, o jornal regionalista “Brados do Alentejo”, inquirido sobre a situação do Palácio Tocha, o presidente do Município, Luís Mourinha, disse que está “preocupado com a situação” e acrescentou ter sido “recentemente contactado verbalmente pelos interessados no sentido de o imóvel ser adaptado a hotel, situação a que a câmara não se opõe”.
Aquele jornal termina a nota, dizendo: “Espera-se, pois, que a solução ainda venha a tempo e seja o mais consentânea com a salvaguarda daquele valioso património histórico-cultural da cidade.”

 PALÁCIO TOCHA (Traseiras) - Uma chaminé tem o capelo destruído. Fotografia de Luís Mariano,
Julho de 2014.
  PALÁCIO TOCHA (Traseiras) - Várias janelas e portas estão totalmente desprovidas de madeiramento.
Fotografia de Luís Mariano, Julho de 2014.
  PALÁCIO TOCHA (Traseiras) - O edifício em si, está transformado num gigantesco pombal, pois
vêem-se pombos a sair do seu interior, sobretudo da zona do telhado abatido. Fotografia de
Luís Mariano, Julho de 2014.
   PALÁCIO TOCHA (Traseiras) - O jardim que se estende até à Travessa de São Pedro, é um autêntico matagal. Fotografia de Luís Mariano, Julho de 2014.
   PALÁCIO TOCHA (Traseiras) - No local onde outrora existiu uma fonte, está um buraco onde
estão amontoadas manilhas de grés.Fotografia de Luís Mariano, Julho de 2014.

Adagiário da caça

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 A Família Real Portuguesa em Queluz (1876). Joseph-Fortuné Séraphin Layraud
(1834-1912). Óleo sobre tela (325 x 251 cm). Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa.
Da esquerda para a direita, D. Maria Pia (1847-1911), o Infante D. Afonso
(1865-1911),  o Príncipe Real D. Carlos (1863-1908) e o Rei D. Luís I (1838-1889).
  
De acordo com o Génesis, o primeiro livro da Bíblia, Adão e Eva foram expulsos do Jardim do Éden, pelo que por necessidade de sobreviver, Adão terá sido o primeiro caçador. Diz-nos a antropologia que de facto, foi a necessidade de sobreviver que levou o homem primitivo a caçar, isto é, a perseguir outras espécies animais, com a finalidade de os abater e consumir na alimentação.

É abundante o adagiário português referente a caça. O actor principal da caça é o caçador:

- A cabeça é do caçador.

- A caça da ria em Fevereiro caga para o espingardeiro.

- A caça é uma imagem da guerra.

- A caça só sai aos inocentes. 

- A caçar e a comer, não te fies no prazer.

- À porta de caçador, nunca grande monturo.

- Caça, guerra e amores, por um prazer cem dores.

- Caça, guerra e amores, por um prazer muitas dores.

- Caçar e comer, começo quer.

- Cada um caça e coça.

- De má mata, nunca boa caça.

- De uma fraca toca sai um bicho bom.

- Diminui a pólvora em Setembro e faze, em Outubro, o contrário.

- Duma fraca toca nasce um bicho bom.

- Em caça e amores, por um prazer, cem dores.

- Em tempo de caça e de guerra, mentira como terra.

- Enquanto não é tempo de muda, caçai comigo aos perdigotos.

- Enquanto uns batem o mato, os outros apanham a caça.

- Fome de caçador, sede de pescador.

- Guerra, caça e amores, por um prazer, cem dores.

- Guerra, caça e amores, por um prazer, mil dores.

- Ir à caça sem espingarda.

- Ir à guerra, nem caçar, não se deve aconselhar.

- Mal haja o caçador doido, que gasta a vida com um pássaro.

- Mau caçador, bom mentidor.

- Mentiras de caçadores são as maiores.

- Não caça do coração senão o dono do furão.

- Não é regra certa, caçar com besta.

- Nem boa moça na praça, nem homem rico por caça.

- Ninguém caça do coração como o dono do furão.

- No amor e na caça, começa-se quando se quer e acaba-se quando se pode.

- O caçador de lebres tem que ser coxo.

- Para caçador novo, cão velho.

- Para caçar, calar.

- Porfia mata caça.

- Porfia mata veado e não besteiro cansado.

- Prestes tem a mentira, caçador que mal atira.

- Quando se atira o tiro, é que se apanha o coelho.

- Quem caça de coração é o dono do furão.

- Quem caça e acha não é desgraça.

- Quem caça uma arvela, é mais fino que ela.

- Quem caça, vá à praça.

- Quem em caça, guerra e amores se mete, não sairá quando quiser.

- Quem em caça, política, guerra e amores se meter, não sairá quando quiser.

- Quem não acha o que caça, pega no que acha.

- Quem não pega o que caça, pega no que acha.

- Quem porfia, mata caça.

- Quem quer caça diz xó.

- Quem quer caça vai à praça.

- Quem quer caçar, não diz xó.

- Quem quiser caça, vá á praça.

- Quem vai à caça, perde a graça.

- Quem vai caçar, perde o lugar.

- Quem vai em caça, perde o que não acha.

- Quem, à toa, o tiro acerta, não se gabe de mão certa.

- Se caçares, não te gabes; e, se não caçares, não te enfades.

- Se esta cotovia mato, três me faltam para quatro.

- Sede de caçador, e fome de pescador.

- Um sabor tem cada caça, mas o porco cento alcança.

- Uma vez é da caça, outra do caçador.

Na caça, o homem pode ser auxiliado por animais como o cão:

- A galgo velho deita-lhe a lebre e não coelho. 

- Alentejanos, algarvios e cães de caça, é tudo a mesma raça.

- Algarvios, burros brancos e cães de caça, são todos da mesma raça.

- Bom cão de caça, até à morte dá ao rabo.

- Bom rafeiro caça o ano inteiro.

- Cachorro amarrado não caça.

- Cão azeiteiro, nunca bom coelheiro.

- Cão bom caça por instinto.

- Cão de boa raça, até à morte caça.

- Cão de boa raça, se não caça hoje, amanhã caça.

- Cão de caça puxa à raça.

- Cão de caça sai à raça.

- Cão de caça vem de raça.      

- Cão de caça, caça bem.

- Cão de raça, caça.

- Cão que muito ladra, nunca bom para a caça.

- De casta lhe vem ao galgo ter o rabo longo.

- Em Dezembro, a uma lebre galgos cento. 

- Em Janeiro, nem galgo lebreiro, nem açor perdigueiro. 

- Enquanto mija o cão, vai-se o lobo.

- Galgo que muitas lebres levanta, nenhuma mata. 

- Galgo varzino, ou muito velhaco ou muito mofino.

- Galgo, comprá-lo e não creá-Io.

- Metes os cães à mata e arredas-te para fora.

- Metes os cães à moita, arredaste-a fora.

- Mulher e cachorro de caça, escolhe-se pela raça.

- Mulher e cão de caça, procura-os pela raça.

- Mulher, cavalo e cachorro de caça, se escolhe pela raça.

- Não crie cão quem lhe não sobeje pão.

- O bom cão caça por raça.

- O bom cão de caça até à morte dá ao rabo.

- O galgo, à larga, lebre mata.

- O que é de raça, caça.

- Para caçador novo, cão velho.

- Quem não tem cachorro, caça com gato.

- Quem não tem cachorro, caça com gato; quem não tem gato bota pé no mato.

- Quem não tem cachorro, caça com gato; quem não tem penico, caga no mato.

- Quem não tem cão caça com gato.

- Quem quer um bom cão de caça, escolhe a raça.

- Se queres bons cães de caça busca-lhes a raça.

- Se queres cão de caça, procura-o pela raça.

Pode também ser auxiliado por animais como o furão:

- Andar com furão morto à caça.

- Não caça do coração senão o dono do furão.

- Ninguém caça do coração como o dono do furão.

- O dono do furão caça do coração.

- Quem caça de coração é o dono do furão.

- Só caça de coração o dono do furão.

Pode igualmente ser auxiliado por aves de rapina como o falcão, o açor e o gavião, usados na caça de altanaria:

- Do gavião maneiro se faz o çafaro; e do çafaro o maneiro, segundo a têmpora do cetreiro.

- Em Janeiro, nem galgo lebreiro, nem açor perdigueiro. 

- Gavião temporão, Santa Marinha na mão.

- Inda que a garça voe alta, o falcão a mata.

- Nunca bom gavião de francelho, que vem à mão.

- O açor e o falcão, na mão.

- O açor e o falcão, na mão.

Há adágiário específico de determinadas espécies cinegéticas:

Arvela:

- Quem caça uma arvela, é mais fino que ela.

Codorniz:

- Das aves, boa é a perdiz, mas melhor a codorniz.

Coelho:

- A coelho ido, conselho vindo.

- A galgo velho deita-lhe a lebre e não coelho.

- A lebre é de quem a levanta e o coelho de quem o mata. 

- Antes coelho magro no mato que gordo no prato.

- Ao coelho ido, conselho vindo.

- Cada coelho a seu santo.

- Coelho duma cama só, morre depressa.

- Com este cajado mataste já outro coelho.  

- De onde não se espera salta um coelho.

- De uma má moita pode sair um bom coelho.

- Depois de fugir o coelho, todos dão conselho.

- Depois de fugir o coelho, toma o vilão conselho.

- Deste mato não sai coelho.

- Não é mato donde saia coelho.

- O coelho, onde se cria; a lebre, onde amanhece o dia.

- Quando se atira o tiro, é que se apanha o coelho.

Cotovia:

- Se esta cotovia mato, três me faltam para quatro.

Javali:

- Feriste o javali, deixará quem seguia e tomará a ti.

- Não é no seu fojo que se apanham os javalis.

Lebre:

- A galgo velho deita-lhe a lebre e não coelho.

- A lebre é de quem a levanta e o coelho de quem o mata. 

- Às vezes, corre mais o Demo que a lebre. 

- Em Dezembro, a uma lebre galgos cento. 

- Em Janeiro, nem galgo lebreiro, nem açor perdigueiro. 

- Fazer como a lebre: comer e rodar longe do covil.

- Galgo que muitas lebres levanta, nenhuma mata. 

- Levantas a lebre, para que outrem medre. 

- Não levantes lebre, que outrem leve. 

- Não se caçam lebres tocando tambor.

- O caçador de lebres tem que ser coxo.

- O coelho, onde se cria; a lebre, onde amanhece o dia.

- O galgo, à larga, lebre mata.

- Quem caça veado despreza a lebre.

- Se assim corres como bebes, vamos às lebres.

Lobo :

- Quando o lobo vai por seu pé, não come o que quer.

- Se queres apanhar o lobo, prende-lhe a loba.

Narceja:

- Caça à perdiz com o vento pelo nariz e às narcejas pelas costas o vejas.

Pássaro :

- A pássaro dormente, tarde entra o cevo no ventre.

- A pequeno passarinho, pequeno ninho.

- Mal haja o caçador doido, que gasta a vida com um pássaro,

- Quem pássaro há-de tomar, não o há-de enxotar.

Perdiz:

- A perdiz é perdida, se quente não é comida.

- A perdiz, com a mão no nariz.

- Caça à perdiz com o vento pelo nariz e às narcejas pelas costas o vejas.

- Das aves, boa é a perdiz, mas melhor a codorniz.

- Em Janeiro, nem galgo lebreiro, nem açor perdigueiro. 

- Enquanto não é tempo de muda, caçai comigo aos perdigotos.

- Fevereiro couveiro faz a perdiz ao poleiro: Março, três ou quatro: Abril, cheio está o covil: Maio,

Pombo:

- Tenho-te no laço, pombo torcaz.

Rola:

- Bem sabe a rola em que mão pousa.

Veado:

- Nunca vi veado baleado que não fosse grande e gordo.

- Porfia mata veado e não besteiro cansado.

- Quem caça veado despreza a lebre.

- Veado baleado lodo ele é grande e gordo.

- Veado corre muito mas também morre na cama.



Figurado de Barro de Estremoz reconhecido como Património Imaterial de Interesse Municipal

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Primavera.
Oficinas de Estremoz do séc. XVIII

Colecção Júlio dos Reis Pereira
Museu Municipal de Estremoz


Transcrevo com regozijo e com a devida vénia,

a Notícia do Município de Estremoz, nº 1746,

de 17 de Setembro de 2014.

  
Na reunião de Câmara de hoje, 17 de Setembro de 2014, foi aprovado por unanimidade, o reconhecimento da Produção de Figurado de Barro de Estremoz como Património Imaterial de Interesse Municipal, processo que vai ainda ser submetido à Assembleia Municipal para finalização do processo de classificação.

O Município de Estremoz assume o dever de proteger, valorizar e divulgar o Património Cultural da sua zona geográfica, nomeadamente na área do Imaterial. O Saber-Fazer de uma Figura de Barro de Estremoz (vulgo Boneco de Estremoz), é um património imaterial local de expressão única no mundo que importa valorizar, num primeiro momento, através de um reconhecimento municipal, para que assim os Barristas vejam reconhecido o mérito de continuarem uma tradição, com mais de 300 anos de existência, mas também para que o concelho assuma esta herança cultural como de relevância excepcional para o seu desenvolvimento integral.

Assume-se assim este património imaterial como uma herança multissecular de inestimável valor cultural para o concelho, bem como para os seus cidadãos e que importa transmitir devidamente valorizado, estudado e preservado às novas gerações.

Este é o primeiro passo de um processo, já iniciado pelo Município e que procura chegar ao registo da Produção de Figurado em Barro de Estremoz na Lista Representativa de Património Cultural Imaterial da UNESCO.


Começou o Outono

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José Malhoa (1855-1933).
Óleo sobre tela (46 cm x 38 cm).
Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa.
 

O Outono (do latim autummus) é uma das quatro estações das zonas temperadas, compreendida entre o Verão e o Inverno, que corresponde aos meses de Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro no Hemisfério Norte. Caracteriza-se por um declínio gradual da temperatura e é marcada por tempo chuvoso, ventoso e pouco ensolarado.
Sob o ponto de vista astronómico, no Hemisfério Norte, o Outono boreal vai desde o equinócio de Outono (a 22 ou 23 de Setembro e excepcionalmente 21 ou 24 de Setembro), ao solstício de Inverno (a 21 ou 22 de Dezembro). No Hemisfério Sul, o mesmo período corresponde à Primavera e o Outono austral começa em 20 ou 21 de Março e termina a 20 ou 21 de Junho.
No Outono, as árvores de folha caduca preparam-se para passar ao estado de dormência no Inverno, constituindo reservas a serem utilizadas na produção de botões para a subida da seiva na Primavera. Perdem assim as folhas finas e flexíveis que poderiam congelar, o que as tornaria não funcionais. A árvore recupera substâncias úteis presentes nas folhas, armazena-as e/ou recicla-as a fim de as reutilizar no início da Primavera. As folhas perdem a clorofila, substância responsável pela cor verde, adquirindo a cor de outros pigmentos presentes anteriormente, mas ocultos devido à presença da clorofila. Colorem-se então de amarelo devido à presença de carotenóides ou até mesmo de vermelho devida à presença de antocianinas.
No Hemisfério Norte, o Outono é a época das colheitas, especialmente culturas de Verão: milho, girassol, etc. e todos os tipos de frutos: maçãs, peras, marmelos, etc., frutas secas: castanhas, nozes, avelãs, etc., e uvas. É também o período das lavras.
No adagiário português, a presença implícita do Outono é vasta, já que engloba adágios relativos aos meses de Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro. Todavia, a sua presença explícita é muito escassa, já que apenas localizámos a existência de dois adágios relativos ao Outono:
- Logo que o Outono venha, procura a lenha.
- No Outono o Sol tem sono.
- Quem planta no Outono, leva um ano de abono.
- Um dia de Outono vale por dois de Primavera.

Estremoz - Defesa do Património - 3

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A hoje inexistente Igreja de Santo André, situava-se na Rua 5 de Outubro, em

Estremoz. Muito rica e Imponente no seu estilo barroco, foi sede de Paróquia.

A sua construção iniciada em 1705, levou 20 anos, tendo sido inaugurada em

26 de Novembro de 1725. Diz-nos Marques Crespo em “Estremoz e o seu Termo

Regional”, que a Igreja de Santo André, de uma só nave, sete capelas e exterior

majestoso, viu abater com muito estrondo a sua abobada, no dia 8 de Outubro

de 1940, cerca das 22 horas e 30 minutos, não tendo ocorrido felizmente qualquer

desastre pessoal. A partir daí, o culto e a actividade paroquiana passaram a ser

exercidos no vizinho templo do Convento de S. Francisco. Diz-nos ainda Marques

Crespo, que desde logo foram tentadas as reparações necessárias, que foram

sofrendo interrupções, por serem dispendiosas. A demolição da Igreja de Santo

André no ano de 1960, foi sem sombra de dúvida, o maior crime perpetrado

contra o património construído em Estremoz. A demolição foi efectuada às

ordens do regime de Salazar, então no poder e em força, pois ainda não eclodira

a guerra colonial. O arrasamento criminosamente executado visou a construção

no local, do chamado Palácio da Justiça, edifício cinzento e incaracterístico,

símbolo de uma distorcida capacidade empreendedora do Estado Novo, que

não olhava a meios para atingir os seus fins. Este viria a ser inaugurado a 3 de

Abril de 1964 com pompa e circunstância pelo mais alto magistrado da Nação,

modo como se designava então, eufemísticamente, o Presidente da República,

Almirante Américo Tomaz - Foto de C. J. Walowski (1891).


Outra estrutura associativa de defesa do património cultural em Estremoz é:
Associação Filatélica Alentejana

Fundada em 1983 e liderada por Hernâni Matos, vocacionada para as actividades exposicionais, tem desenvolvido entre outras, actividades que se situam na área da Defesa do Património. São de referir as seguintes exposições:

- NO ÂMBITO DA ARTE POPULAR: No princípio foi a Arte Pastoril (2004); Exposição Retrospectiva do Trabalho das Irmãs Simões (2008); Bonecos da Gastronomia (2009 e 2010); Arte Conventual – O Falar das Mão de Guilhermina Maldonado (2010); Alentejo do Passado (2011); António Canoa – Artesão da Ruralidade (2012); António Coelho – Memórias dos Campos (2012); António Moreira – Artes do Fogo (2012); Arte Pastoril – Memórias de um Coleccionador (2012); O Vasilhame de Barro de Estremoz (2012).

- NO DOMÍNIO DA ETNOGRAFIA: Memórias dos Campos de Além-Tejo (2006); O Natal Português (2007); O Traje Popular Português (2007); É Natal (2008); O Traje Popular Alentejano (2010); As Mulheres do Meu País (2011); Comemorações do Cinquentenário do Cortejo do Trabalho de 1963 (2013).

- Na ÁREA DO PATRIMÓNIO CONSTRUÍDO: Rossio de Outros Tempos (2006); Estremoz vista por Rogério Carvalho (2007); Memórias do Espírito Santo (2009); Igreja de Santo André - História dum Crime (2010); Defesa do Património (2010).

Noutros sectores são de referir:

- NO CAMPO DA POESIA POPULAR foram realizados até ao presente, vinte e um Encontros de Poetas Populares do Concelho de Estremoz, os quais foram convidados a fazer décimas, glosando motes subordinados a temas locais ou regionais.

- NO PLANO DAS CONFERÊNCIAS, foram proferidas até ao presente, as seguintes:

“O Pastor Como Ex-Líbris do Alentejo” (2006), por Hernâni Matos; “A romaria de Santo Amaro de 1729 – Projecto de História ao Vivo”, por Pedro Silva e Francisca de Matos (2007); “Mestre Mariano da Conceição, o Alfacinha” (2013), por Hernâni Matos; “Santo António na Tradição Popular Estremocense” (2013), por Hernâni Matos;

De salientar ainda que na Sala de Exposições da Associação Filatélica Alentejana no Centro Cultural de Estremoz, estão permanentemente patentes ao público as colecções de bonecos de Estremoz “O Traje Popular Português” e “Alentejo do Passado”, bem como uma colecção de “Vasilhame de Barro de Estremoz.

(Continua)




Efemérides de Outubro (Nova versão)

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2 DE Outubro
A 2 de Outubro comemora-se o Dia Mundial da Não-Violência, dia decretado
Pela Assembleia-geral da Organização das Nações Unidas, tendo como

Objectivos gerais, a promoção da paz e da tolerância e luta contra o uso da

força na resolução de conflitos. Neste dia, o apelo à não-violência é reforçado

pela ONU, assim como o respeito entre países e povos, que consta da Carta das

Nações Unidas. A data foi criada pela ONU em homenagem a Mahatma Gandhi

(1869-1948), nascido nesse dia no ano de 1869, na Índia. Mahatma Gandhi foi

um dos maiores líderes pacifistas da história, conduzindo multidões a conhecer

e a praticar o significado da não-violência, na sua luta pela independência da


Índia.

1 de Outubro
A 1 de Outubro de 1833 morre em Lisboa, a cantora lírica Luísa Todi (1753-1833),
a meio-soprano portuguesa mais célebre de todos os tempos, elogiada pela

imprensa  nacional e estrangeira, pelas suas as capacidades vocais, o relevo que

dava à expressividade e à emoção na caracterização das personagens que

interpretava, cantando com a maior perfeição em francês, inglês, italiano e

alemão. Cantou em Lisboa pela primeira vez em 1770, estreou-se em 1771 na

corte portuguesa da futura D. Maria I e cantou no Porto entre 1772 e 1777.

No estrangeiro, Londres, Paris, Berlim, Turim, Varsóvia, Veneza, Viena,

São Petersburgo foram algumas das cidades em que Luísa Todi passou longas

temporadas, alcançando assinaláveis êxitos e convivendo de perto com a

aristocracia europeia, como Frederico II da Prússia e Catarina II da Rússia.

Até 1793 andou em tournée pela Europa e foi já com 40 anos de idade que

voltou a Portugal para cantar nas festas da filha primogénita do príncipe

regente, futuro D. João VI. Em 1799 terminou a sua carreira internacional

em Nápoles. LUÍSA TODI (1785). Vigée-Le Brun (1755-1842). Óleo sobre

tela. Museu da Música, Lisboa.


O Outono na Pintura Universal

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OUTONO (Finais do séc. XIV). Iluminura do “Tacuinum Sanitatis”, livro medieval sobre o bem-estar, com base na al Taqwin Taqwin تقوين الصحة ("Quadros de Saúde"), tratado do século XI da autoria do médico árabe Ibn Butlan de Bagdá, o qual pertence à Biblioteca Casanatense, em Roma.

O Outono começa com o Equinócio de Outono. O Equinócio é o instante em que o Sol, no seu movimento anual aparente, cruza o equador celeste. A palavra de origem latina significa "noite igual ao dia", uma vez que nesta data, o dia têm duração igual à noite.

São múltiplas as referências bíblicas ao Outono:
- "Eu dar-vos-ei chuva no seu tempo: chuvas de Outono e de Primavera. Deste modo, poderás recolher o teu trigo, o teu vinho novo e o teu azeite." (Deuteronómio 11,14)
- "Pudesse eu reviver os dias do meu Outono, quando Deus era íntimo na minha tenda," (Jó 29,4)
- "Quem armazena no Outono é prudente; quem dorme no tempo da colheita cobre-se de vergonha." (Provérbios 10,5)
- "No Outono o preguiçoso não lavra, e na colheita vai procurar e nada encontra." (Provérbios 20,4)
-"Não pensaram: “Vamos temer a Javé nosso Deus, que nos dá a chuva do Outono e da Primavera no tempo certo; e ainda estabeleceu as semanas certas para a colheita”. (Jeremias 5,24)
- "Alegrai-vos, filhos de Sião, e rejubilai em Javé, vosso Deus. Pois Ele mandou no devido tempo as chuvas do Outono e fez cair chuvas abundantes: as chuvas do Outono e da Primavera, como antigamente." (Joel 2,23)
- "Irmãos, sede pacientes até à vinda do Senhor. Vede como o agricultor espera pacientemente o fruto precioso da terra, até receber a chuva do Outono e da Primavera." (São Tiago 5,7)
- "São eles que participam descaradamente nas vossas refeições fraternas, apascentando-se a si mesmos com irreverência. São como nuvens sem água, levadas pelo vento, ou como árvores no fim do Outono que não dão fruto, duas vezes mortas e arrancadas pela raiz." (São Judas 1,12)

A igualdade dos dias e das noites, característica do equinócio de Outono é referida por Luís por Camões (c. 1524 - 1580) nos Lusíadas (II, 63):

"Vai-te ao longo da costa discorrendo,
E outra terra acharás de mais verdade,
Lá quase junto donde o Sol ardendo
Iguala o dia e noite em quantidade;
Ali tua frota alegre recebendo
Um Rei, com muitas obras de amizade,
Gasalhado seguro te daria,
E, para a Índia, certa e sábia guia."

Em 2011, o Equinócio de Outono, ocorre no dia 23 de Setembro às 9h 5min (tempo universal), 10h 5min em Portugal continental. Este instante assinala o começo do Outono no Hemisfério Norte. Esta estação prolonga-se até ao próximo Solstício que ocorre no dia 22 de Dezembro às 05h30m.
O Outono é a estação do ano que estabelece a transição do Verão para o Inverno. É caracterizada por um abaixamento de temperatura e pelo amarelecer das folhas das árvores. Estes factos, por vezes associados às fainas agro-pastoris característicos da época, constituem o tema central de telas criadas por grandes nomes da pintura universal, dos quais destacamos, agrupados por períodos:

- IDADE MÉDIA: Autor desconhecido (Finais do séc. XIV);
- RENASCENTISMO: Francesco del Cossa (c. 1435- c. 1477), italiano;
- MANEIRISMO: Jacob Grimmer (c. 1525-1590), flamengo; Giuseppe Arcimboldo (1526-1593), italiano; Abel Grimmer (c. 1570-c. 1619), flamengo;
- BARROCO: Francesco Albani (1578-1660), italiano; Pieter Pauwel Rubens (1577-1640), flamengo; Nicolas Poussin (1594-1665), francês; Jacques Bailly (c. 1634-1679), francês; Rosalba Carriera (1675-1757), italiano; Anton Kern (1709-1747), alemão; Jacob van Strij (1756-1815), holandês;
- RÓCÓCÓ: François Boucher (1703-1770), francês; Jacob Cats (1741-1799), holandês; Jacob Philipp Hackert (1737-1807), alemão;
- REALISMO: Jean-François Millet (1814-1875), francês;
- ROMANTISMO: Frederic Edwin Church (1826-1900), americano;


O OUTONO: A MUSA POLÍMNIA (1455-1460).
Francesco del Cossa (c. 1435-c. 1477).
Óleo sobre madeira (116,6 x 70,5 cm).
Gemäldegalerie Deutsch, Berlin.

OUTONO.
Jacob Grimmer (c. 1525-1590).
Óleo sobre madeira (36 x 60 cm).
Szépmûvészeti Múzeum, Budapest.
 
OUTONO (1572).
Giuseppe Arcimboldo (1526-1593).
Óleo sobre tela (93 x 72 cm).
Art Museum, Denver.

 
OUTONO (1607).
Abel Grimmer (c. 1570-c. 1619).
Óleo sobre tela (33 x 47 cm).
Koninklijk Museum voor Schone Kunsten, Antwerp.
 
OUTONO – VÉNUS E ADÓNIS (1616-1617).
Francesco Albani (1578-1660).
Óleo sobre tela (Diâmetro 154 cm).
Galleria Borghese, Rome.

Paisagem de Outono com vista de Het Steen (c. 1635).
Pieter Pauwel Rubens (1577-1640).
Óleo sobre madeira (137 x 235 cm).
National Gallery, London.

OUTONO (1660-1664).
Nicolas Poussin (1594-1665).
Óleo sobre tela (118 x 160 cm).
Musée du Louvre, Paris.
 
OUTONO. (1664-68).
Jacques Bailly (c. 1634-1679).
Iluminura.
Bibliothèque Nationale, Paris.
 
OUTONO (C. 1725).
Rosalba Carriera (1675-1757).
Pastel sobre papel colado em cartão cinzento (24 x 19 cm).
The Hermitage, St. Petersburg.
 
OUTONO E INVERNO (1747).
Anton Kern (1709-1747).
Óleo sobre tela (165 x 126 cm).
The Hermitage, St. Petersburg.

OUTONO PASTORIL (1749).
François Boucher (1703-1770).
Óleo sobre tela (260 x 199 cm).
Wallace Collection, London.

PAISAGEM DO OUTONO COM ARCO-ÍRIS (1779).
Jacob Cats (1741-1799).
Aguarela e caneta (334 x 415 mm).
Rijksmuseum, Amsterdam.

OUTONO (c. 1784).
Jacob Philipp Hackert (1737-1807).
Óleo sobre tela (96,5 x 64 cm).
Wallraf-Richartz Museum, Cologne.
 
PAISAGEM DE OUTONO (Segunda metade do século XVIII).
Jacob van Strij (1756-1815).
Óleo sobre tela (229 x 210 cm).
Colecção particular.

PALHEIROS: OUTONO (c. 1874).
Jean-François Millet (1814-1875).
Óleo sobre tela (85 x 110 cm).
Metropolitan Museum of Art, New York.
   
OUTONO (1875).
Frederic Edwin Church (1826-1900).
Óleo sobre tela (39 x 61 cm).
Museo Thyssen-Bornemisza, Madrid.

9 – Santo António no figurado de Estremoz

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Santo António (séc. XVIII). 
Oficinas de Estremoz.
Colecção Júlio Reis Pereira.
Museu Municipal de Estremoz.

O culto de Santo foi incentivado em Estremoz pelos religiosos da ordem de S. Francisco de Assis, sediados no Convento de S. Francisco, desde os primórdios da sua construção no século XIII, em data imprecisa, balizada pelos reinados de D. Sancho II – D. Afonso III (1239-1255).

A popularidade do culto antoniano levou o povo a recriar pequenos altares nas suas casas e a ter o Santo exposto em oratórios. A procura de imagens estará na origem do aparecimento da figura de Santo António na barrística popular estremocense. As fontes de inspiração possíveis são: - A imagem seiscentista de Santo António em lenho dourado, do altar homónimo do Convento de São Francisco em Estremoz, situado no lado esquerdo da Capela Maior e referenciada nas Memórias Paroquiais de 1758; - A Imagem seiscentista de Santo António em mármore branco existente no nicho da parte superior das Portas de Santo António, em Estremoz.

No acervo do Museu Municipal de Estremoz existem imagens que vão desde o século XVIII até à actualidade e com dimensões e atributos variáveis. Nessas imagens, Santo António enverga um hábito franciscano cingido à cintura por um cordão e uma capa. Calça sandálias e está assente numa peanha oca que pretende imitar as de talha. Na mão esquerda, o Doutor da Igreja segura um livro no qual está sentado o Menino Jesus. Qualquer das imagens ostenta auréolas. A mão direita do taumaturgo segura um lírio ou um crucifixo, que conjuntamente com o livro e o Menino Jesus, são outros dos atributos deste Santo.

De salientar que nas imagens há elementos amovíveis (auréolas, Menino Jesus, cruz, lírio e até a própria cabeça de Santo António), que eram retirados da imagem e guardados, até o devoto ver o ser desejo satisfeito. Daí que em muitas destas imagens faltem alguns destes elementos. A pressão sobre o Santo a fim de que produzisse milagres, ia ao ponto de alguns porem a sua imagem de castigo, virada para a parede. Em casos extremos, a imagem era posta de cabeça para baixo e até mesmo atada a um cordel e mergulhada num poço. Seria para o Santo refrescar as ideias e fazer o milagre pretendido? Vejam lá o extremo a que podia chegar a religiosidade popular…


Luvas brancas

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Hoje, sem razão aparente ou talvez não, ofereceram-me um par de luvas brancas, o que não deixou de me surpreender por vários motivos. Em primeiro lugar, tenho as mãos limpas e não preciso de esconder a sujidade. Em segundo lugar, porque acho que as minhas mãos não contaminam ninguém. E finalmente, porque as minhas mãos grandes, correspondentes ao quarenta e seis biqueira larga dos meus pés, são a minha forma de comunicar afectos.
Luvas brancas para quê?


Bonecos na Assembleia Municipal de Estremoz

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Barbeiro sangrador.
José Moreira, (1926-1991). 
Colecção particular.

Unanimidade
Na reunião da Assembleia Municipal de Estremoz, de 26 de Setembro passado, foi aprovado por unanimidade, o reconhecimento da Produção de Figurado de Barro de Estremoz como Património Imaterial de Interesse Municipal. Esta aprovação finaliza o processo de classificação, cuja iniciativa política pertenceu à Câmara, a qual na sua reunião do transacto dia 17 de Setembro, aprovara também por unanimidade aquele reconhecimento.  Trata-se do primeiro passo de um processo iniciado pelo Município e que visa conseguir o registo da Produção de Figurado em Barro de Estremoz na Lista Representativa de Património Cultural Imaterial da UNESCO.

À margem da votação

Apesar da unanimidade conseguida na votação, choca-me o facto desta ter sido feita “a seco”, sem qualquer intervenção, tanto da bancada da situação, como das bancadas da oposição. Neste ponto da ordem de trabalhos, os senhores deputados municipais entraram mudos e saíram calados. Guardaram-se para as habituais trocas de galhardetes entre bancadas e entre bancadas e a Câmara, nas quais a Assembleia é pródiga.

Seria de esperar que os Bonecos de Estremoz, supremos ex-líbris e os melhores embaixadores da nossa cidade, merecessem algum apontamento afectivo por parte dos senhores deputados municipais. É que os Bonecos de Estremoz nascem das mãos mágicas dos barristas que deles fazem o seu ganha-pão e que coleccionadores, estudiosos e publicistas, defendem como dama e arvoram como estandarte. Resultado: Câmara-1, Assembleia-0.

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